sexta-feira, 27 de abril de 2012

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O AMOR


Os servidores do INSS são muitas vezes acusados de realizar seu trabalho com descaso, sem empatia com o segurado e sem amor ao próximo. Hoje nós iremos provar que isso não é verdade, que muitas vezes o cidadão tem um tratamento especial, baseado em atenção, respeito e carinho. De antemão pedimos desculpas à servidora utilizada como exemplo para a análise desta perspectiva pelo fato de invadirmos e expormos o recanto mais reservado de uma mulher que é, à falta de sua bolsa,  o seu coração.
 Seu Gumercindo era um bem apessoado cinquentão, alto, forte, moreno, de cabelos ainda negros, não se sabe se naturalmente ou com o auxilio de algum aditivo químico, com um furinho no queixo largo e um bigodinho fino com extremidades longas e curvadas para cima.
Tão logo Dona Conceição bateu os olhos naquele Clark Gable de bigodes de Salvador Dali, ficou momentaneamente paralisada de emoção. Alguma  imemorial lembrança provocou um inesperado curto-circuito, porém e felizmente quase imperceptível para as pessoas à sua volta, com exceção do causador do efeito, que este, experiente conquistador, captou uma súbita ausência de sangue nas faces da seduzida e um leve tremor em suas miúdas mãos.  Ele, então, sentou-se diante da servidora e, com uma voz forte e sonora de radialista, perguntou-lhe de que ela precisava. Diante de tal oferecimento, a servidora tornou-se rubra e se abanou antes de compreender que ele se referia à documentação necessária para dar entrada em sua aposentadoria.
Consciente da impressão causada, o sedutor segurado pensou encontrar  ali um atalho para sua aposentadoria, imaginou que, pela simpatia alcançada, Dona Conceição se esmeraria em conceder-lhe rapidamente o benefício. E, para fortalecer o sentimento inicial, ele dizia que ela era muito gentil, elogiava o atendimento e, enquanto o fazia, enrolava uma das pontas do bigode. Ela ouvia encantada e revirava os olhinhos. Quando ele se foi, ela ficou suspirando e olhando para os retratos dele nas carteiras profissionais e, só então, deu-se conta de que não lhe dera o requerimento para assinar.
Se antes tal esquecimento a irritaria, desta vez fora motivo de satisfação. Teria mais uma oportunidade de se encontrar com o galante cidadão, ouvir aquela voz que a deixava sem ar e admirar a desenvoltura com que enroscava o dedo no comprido bigode.
Ele atendeu ao chamado extraindo da lapela e lhe ofertando um botão de rosa, inspiradoramente rubra ainda por cima. Dona Conceição não cabia em si de encantamento. Estava apaixonada. Andava pela agência sorrindo de um lado para o outro, fazia festinha em crianças choronas, não ligava se algum segurado lhe tratasse mal, não reagia a nenhuma provocação. Nem mesmo o CNIS lhe tirava o bom humor. Os colegas pensavam que ela andava pondo mais Prozac que Haldol no chá quando, na verdade, nem chá ela tomava mais.
Entretanto, Dona Conceição, guardiã do processo de Seu Gumercindo, não se resolvia a conceder muito embora ele já tivesse tempo de sobra para a sua aposentadoria. Volta e meia fazia uma exigência estapafúrdia só para trazê-lo de volta à sua mesa. Primeiro pediu que apresentasse a certidão de nascimento para a realização de acertos de dados cadastrais quando, na realidade, ela queria apenas certificar-se de que ele era mesmo solteiro, como ele lhe havia sugestivamente relatado. Depois se seguiram solicitações de documentos desnecessários que apenas protelavam a conclusão do serviço. A cada vez ele se aproximava, sem nunca deixar de fazer alguma insinuação charmosa embora estivesse cada vez mais ansioso e preocupado com a demora do serviço. Enfim, um dia, Seu Gumercindo resolveu abrir seu coração para a esperançosa servidora:
- Dona Conceição – disse ele, segurando a mão dela, repentinamente trêmula e gelada -  eu não gostaria de lhe dizer isso assim desta forma nem nesta ocasião. Mas a verdade é que, eu conheci recentemente uma pessoa com a qual me encantei e com a qual quero me casar. Porém,  não gostaria de me declarar sem saber que posso contar com o meu fundo de garantia para assegurar uma viagem de lua de mel. A senhora me entende?
Dona Conceição, acreditando ter entendido perfeitamente, piscou os olhos para guardar uma lágrima de emoção, e com a mão livre deu um carinhoso tapinha na mão de Seu Gumercindo e disse, em voz baixa:
- Tolinho...
E concedeu o benefício na mesma hora. Ele lhe beijou a mão, agradecido, disse que voltaria em breve com uma surpresa e saiu apressado. Dona Conceição passou três noites sem dormir, pensando em enxoval, festa, vestido de noiva, convidados e casamento, até que Seu Gumercindo, compareceu à  agência para apresentar-lhe a noiva. Todas as cores do arco-íris  estamparam o rosto de Dona Conceição antes de ela sofrer uma síncope e cair durinha no chão. Quando acordou, circundada pelos colegas, abanou-se e disse:
- Foi o chá, foi o chá. Andei abusando da camomila...
E mais não disse nem lhe foi perguntado mas, até hoje, seu pobre coração ainda dispara quando lhe aparece pela frente algum senhor que, seja pelo bigode, pela voz ou pelo furinho no queixo, lembre-lhe algum dos muitos encantos do senhor Gumercindo.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - RETRATAÇÃO


     Para o bem da convivência pacífica entre Dataprev e o INSS, o Manual do INSSano,  arrependido de só falar mal de tão...de tão...de tão afamada entidade, após receber uma suave advertência de um servidor daquele órgão, alertando que o mesmo, apesar de pequenas falhas, produz um trabalho de excelente qualidade, resolveu  fazer um capítulo especialmente dedicado a expor o lado positivo da nobre instituição. Afinal, o INSS e a Dataprev são organizações irmãs, e devemos nos tratar mutuamente com carinho e respeito, como se fossemos dois países fronteiriços, de interesses convergentes e de grande e agradável intercâmbio cultural e comercial como, por exemplo, Brasil e Argentina.
A primeira dificuldade na produção de um artigo devotado unicamente a enumerar as qualidades de nossa alma gêmea é que os capítulos deste manual tem sempre mais de duas linhas. Pensou-se em contornar a situação com um enorme preâmbulo de forma a ocupar todo o espaço com tergiversações proustianas para disfarçar a parcimônia do conteúdo. Entretanto,  por uma questão de honra não podíamos abandonar á árdua  tarefa sem um esforço, ainda que hercúleo, para a consecução de um bom resultado final.
Durante a semana, os longos períodos em que os sistemas estiveram fora do ar, foram produtivamente utilizados para fazer um levantamento dos bons serviços prestados pela Dataprev.
Primeiro iremos destacar o mais importante de todos os sistemas que é o SISREF, o sistema de ponto que controla os horários de inicio de expediente, intervalo para almoço e fim do dia de trabalho. Normalmente, quando se chega atrasado e tropeçando em busca de um computador para marcar a entrada, o dedicado programa está funcionando perfeitamente o que não costuma ocorrer no momento em que finalmente se encerra o expediente. Entretanto esta exaustiva rotina tem lá seus  momentos de alívio quando o SISREF, esta declaração de cárcere em tempo real, contra toda a expectativa, para de funcionar ‘momentaneamente’, segundo sua própria informação, durante vários dias seguidos. Isso pode soar como uma liberdade condicional, um indulto para pequenos atrasos, porém,  de uma hora para outra ele pode voltar a funcionar plenamente. Esse fator surpresa é muito apreciado pois quebra a sequência  cansativa de seguir horários rígidos e preestabelecidos e favorecendo a descontração no horário de trabalho. O mesmo resultado é obtido com as intermitências funcionais de todos os outros sistemas. Diariamente há uma grande interação entre os colegas, que de resto ficariam absortos em seu trabalho, quando gritam, meio desesperados, uns para os outros: ‘O CNIS está abrindo aí?’ ‘Não sei, mas o Prisma caiu!’ ‘O SABI voltou...ah, não, caiu de novo!’ e por aí vai. Por aí vai o dia todo, todos os dias.
Os cursos promovidos pela Escola da Previdência também são muito agradáveis, interativos, divertidos, úteis e antecipados. Quem não fez, com dois anos de antecedência, o curso de CNISPF e que, quando ele enfim foi implantado, já havia se esquecido de tudo que lhe fora ensinado ou que, com rara memória, observara que o programa não tinha muita coisa em comum com o anteriormente apresentado. Mas como são inesquecíveis todas aquelas ilustrações de casinhas coloridas, de arvorezinhas cheias de folhas e pessoinhas segurando cartazes, numa exemplar didática gu-gu da-dá, que percorre, sucintamente, umas oitocentas telas até chegar ao seu final, quando o servidor deve fazer uma prova a fim de conquistar um belo diploma. E pensar que já foram feitos todos os cursos sobre o portal do CNIS e quando nem sombra dele se via ainda no horizonte deste promissor futuro.
E, para finalizarmos esta longa lista de qualidades da Dataprev, destacamos o aspecto lúdico de lidar com um sistema como o Prisma, com a possibilidade de mudar de cores a tela, fazendo combinações variadas como o patriótico verde e amarelo ou escolher as cores do seu time de futebol, mantendo lembranças agradáveis durante o período de labor.
Que esta longa dissertação elogiosa sirva de estímulo para o desenvolvimento outros mais sistemas igualmente precisos e atuantes tais como o novíssimo CNISPF, que nos permite um minucioso acerto cadastral em pouco mais de cinco tentativas. *


Nota do Editor: Este capítulo é um oferecimento de DELIREX, um  produto da Farmacopéia de Dona Conceição.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – ORIENTAÇÃO E INFORMAÇÕES



A maioria dos segurados vai às agências da Previdência Social em busca de informações básicas, orientação sobre procedimentos e outros serviços igualmente simples e o servidor deve estar preparado para atendê-lo com presteza e eficiência.
Uma das dificuldades comuns a certos segurados é a orientação espacial e, embora eles possam ficar duas horas esperando o atendimento, nunca atentam para a numeração e localização das mesas ou, de tanto olhar para o monitor de chamada, acabam sendo hipnotizados pela alternância das telas de chamada das senhas, que terminam  sem saber mais onde se encontram. Então o servidor, após clicar cinco vezes a senha sem resposta alguma, resolve chamá-lo no grito: - Seu José. Aí a resposta surte efeito acima de esperado pois se levantam, ao mesmo tempo, cinco Seus Josés e uma senhora, provavelmente uma Dona Maria José que, meio envergonhada, logo volta a  se sentar. Diante deste impasse, o colega repete o nome acompanhado do número da senha e, bingo, só um Seu José permanece de pé, olhando meio incrédulo para o monitor, conferindo o número para estar bem certo de que fora o sorteado. Aí o servidor já está gesticulando, agitando bandeiras e gritando:  - É aqui! É aqui. Neste ponto, já convicto de que a senha chamada é mesmo a dele, começa lentamente a girar o corpo em busca da mesa anunciada. O servidor, já exausto, se abana. Os outros segurados gritam, assoviam, apitam, tudo para guiar o companheiro ao lugar exato. Finalmente, quando se dá o feliz encontro entre o servidor e o segurado, este reclama que estava meia hora esperando, esquecendo de descontar, para o sucesso da boa aritmética, os quinze minutos que ficou patetando até encontrar o seu objetivo.
Agora o servidor tem a esperança de concluir com rapidez o atendimento e pergunta o que o segurado deseja. Ele, então, coloca um papel sobre a mesa. O servidor, verificando tratar-se de um protocolo de aposentadoria, imagina que o segurado quer  saber o andamento do processo. Indagando a respeito, recebe como resposta outra folha de papel, desta vez, a carta de indeferimento do pedido em questão. Continuando o seu trabalho investigativo, o funcionário pergunta se o cidadão pretende entrar com um pedido de recurso contra o indeferimento do benefício. Mais outro papel é exibido. É a resposta da Junta de Recursos negando provimento. Em vista disso, já cansado de tantas tentativas de adivinhação, porém, persistente em sua tarefa de bem atender o seu cliente, pergunta se ele deseja entrar com recurso à CAJ, quando, é colocando diante de seu olhar aflito, um outro papel, e o segurado responde, tranquilamente, que só quer pegar os suas carteiras profissionais. Fim do mistério agora é só se mobilizar para a árdua tarefa de localizar os documentos do cidadão e um atendimento que deveria durar dez minutos levará, certamente, uns quarenta para ser concluído.
Entretanto, o senhor acima, metódico e organizado poderia ser substituído por outro que, em vez de mostrar a papelada uma a uma e disposta em ordem cronológica, coloca uma pasta velha sobre a mesa e diz que está tudo ali. Sem dúvida que está tudo ali, conclui o servidor, ao fazer um superficial inventário da velharia: tem conta de luz antiga, boletim escolar, nota fiscal das Casas Bahia, carnê do Baú da Felicidade, volante da mega-sena, bula de xarope com pegajosa amostra do produto, entre outras preciosidades, nenhuma com valor ou utilidade para o local e o momento. Informado disto, o segurado pesquisa no bolso um papel amassado, desdobrando com súbito cuidado para não rasgar,  e indaga ao servidor para que serve aquele trapo de papel e, ao tomar conhecimento de que se trata da sua carta de aposentadoria e que deve se dirigir ao banco a  fim de receber seu primeiro pagamento,  ao invés de se alegrar  com a boa notícia, de resto explicitada no documento recebido em casa, sai reclamando que ficou mais de uma hora esperando à toa e que agora vai ter que enfrentar um fila de banco, que não se tem respeito pelo cidadão, que ele já é muito velho, que o calo dói, que o cachorro tem pulga, que venta e faz frio e a culpa, que isso fique bem claro, é sua, colega de infortúnio.
É lógico que o serviço em questão não é feito apenas de casos tranqüilos como os exemplos acima citados, entretanto, deixemos de lado as ofensas, as ameaças e as agressões, pois, em função de excelência do atendimento, todos os mal-entendidos podem ser superados e até vistos de forma agradável, bastando para isso seguir a fórmula medicinal de Dona Conceição, que consiste em dissolver em uma xícara de chá de camomila, três comprimidos de haldol, quatro de rivotril e, para produzir o efeito caetano, dois comprimidos de prozac. Em poucos minutos, se sobreviver, o servidor estará achando que o segurado é lindo, que o CNIS é lindo, que o seu trabalho é lindo...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

             INSSaNewsTV
   Consultório Previdenciário  

  Apresentador: O INSSaNewsTV, em sua inauguração, tem o prazer de apresentar o programa “Dona Conceição Responde” onde você, segurado, poderá fazer questionamentos a respeito do atendimento das agências da Previdência Social. Nossa honorável servidora, Dona Conceição, aqui presente, do alto de seus 30 anos de experiência, dedicação, tolerância e paciência que lhe são peculiares, se propõe a esclarecer qualquer dúvida. Ligue agora mesmo e faça a sua pergunta.

    Segurada: Quando eu dei entrada em minha aposentadoria não quiseram aceitar minha carteira profissional só porque meu filho havia rabiscado umas páginas, rasgado outras e perdido algumas folhas. Isso é correto?
   Dona Conceição: O servidor não agiu corretamente. O mais importante de uma carteira profissional é, sem dúvida,  a sua capa. O mesmo ocorre com sua carteira de dinheiro. Deixe-a durante quinze minutos com seu filhinho para que ele continue o aperfeiçoamento de suas habilidades manuais e verá que não fará diferença alguma se ele rabiscar algumas notas, rasgar outras e perder alguns cartões de crédito.

  Segurada: Tenho 57 anos de idade  e 18 anos de contribuição. Entrei com um pedido de aposentadoria por tempo de contribuição há uma semana e até agora não obtive resposta. Acho isso um absurdo pois ouvi dizer que as aposentadorias levam apenas 30 minutos para serem concedidas.
 Dona Conceição: É verdade. E no seu caso, 10 minutos bastariam para resolver a parada já que a senhora não possui tempo suficiente para a aposentadoria solicitada nem  idade mínima para uma aposentadoria por idade   e sequer juízo que a impeça de fazer tão disparatado requerimento.

Segurado: Por que os servidores entendem dificuldade que os segurados desejam?
Dona Conceição: Não entendi... quer repetir, por favor?


 Segurado: Por que desejam segurados dificuldade de servidores entender?
Dona Conceição: Continuo sem entender nada...
 Segurado: Ta vendo só como eu tenho razão? Os servidores têm muita dificuldade de entender o que os segurados desejam...
 Dona Conceição: O senhor até que se saiu muito bem; fez-se entender já na terceira tentativa, superando com folga a média nacional. Parabéns!

  Segurada: Quando dei entrada no Salário Maternidade,  embora tenha levado meu filho junto, o servidor exigiu a certidão de nascimento da criança. Ora, o bebê não é elemento suficiente para comprovar a própria existência?
  Dona Conceição: A sua pergunta foi muito bem elaborada  e tem profunda base filosófica. Sem dúvida alguma, a presença de criança substitui a certidão de nascimento, bastando, para tanto, apenas anexá-la ao processo, sem maiores exigências burocráticas.

 Segurado: Meu pai, ao falecer, deixou uma pensão para minha mãe, que faleceu recentemente. Fui solicitar uma pensão para mim e foi negada só porque eu tenho 30 anos e não sou deficiente. Eu, como filho, não tenho direito à pensão de meu próprio pai? O que devo fazer agora?
   Dona Conceição: Você seria o próximo na linha sucessória se as pensões por morte fossem hereditárias, o que não é o caso. Você já é grandinho, já está na hora de procurar um emprego e deixar de ser vagabundo.

Apresentador: Ops! Bem, encerramos aqui o nosso programa, voltamos semana que vem. Boa Noite!

Apresentador: Que coisa feia, Dona Conceição, chamando o moço de vagabundo...
Dona Conceição: Ah, vai ver passou o efeito do meu Haldol.
Apresentador: Tira o microfone, Dona Conceição! Tira o microfone!